segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Manoel Martins de Oliveria Costa


Aqui,desde Fernando Pessoa e eu,outras pessoas...
27/11/2005 12h47

Trovas,Pequenas Notáveis...Costa,Manoel Martins de Oliveira & Rememórias...

Quando entrei para o Núcleo Mineiro de escritores,jovenzinha,militava na imprensa de juiz de Fora e o Manoel Martins de Oliveira Costa já era vice-cônsul,tratava-me com a maior deferência e respeito,delicadez,apesar de minha pouca idade..Muitos nem sabiam de seu importante cargo.

Afeito às Letras,abria o vice-consulado para favorecê-las.Lá,Cleonice Rainho,premiada poetisa e trovadora conhecida, ministrou o Curso de Letras portuguesas,do qual fiz parte.Lá,Jose Carlos de Lery Guimarães,advogado,poeta e amante fiel da trova,fez a cerimônia de entrega dos prêmios ao concurso de trovas ilustradas(meu prêmio foi pelos desenhos a bico-de-pena a cem trovas,ditadas por ele,diariamente,em seu programa Contraponto,da Rádio Industrial-e a voz de alguém é tão marcante que mesmo agora,quase quarenta anos depois,fecho os olhos eo ouço,além de ditar mais algumas novas,repetir as anteriores,por isso sei as cem de cor).
Eu era tímida(muito) e pedi a meu mano Luiz Máximo,que fosse me representar.Ele conta que chamaram meu nome,ele levantou e foi aplaudido até chegar ao microfone e dizer que era meu irmão(Rsss).

Manoel martins de Oliveira Costa era natural do Porto(nasceu em Ermesinde,em 1925,na data de 03/04).
O nome dos pais era Américo de Oliveira Costa e Maria da Conceição Martins.
Desde sua vinda para o Brasil,em 1952,foi colaborador na imprensa portuguesa e brasileira,mesmo quando exercía o Comércio.

Uniu-se ao grupo de intelectuais da cidade que adotou,Juiz de Fora, e faz parte do NUME e da UBT.Suas trovas sempre primaram pela originalidade.Seu senso de humor sempre veio á tona,nas mesma.Àquela época,aconteciam os \"Jogos Florais \" no Brasil e os concursos ,como ainda hoje,pediam trovas líricas ou filóficas,ou humiorísticas.Possuía gende talento para trocadilohos,bem humorados ou cheios de filosofia de vida.

Para o tema sogro(a),por exemplo,até hoje são ditas essas,risíveis e cortantes:

\"Deu-lhe o sogro uma \"gravata\"...
E a sua emoção foi tanta,
que casou antes da data
sentindo um \"nó\"na garganta.


Para o trem,numa refrega,
corre a sogra esfoguetada...
Grita ogenro:-\"Pega...Pega...\"
-E o trem pegou a coitada.

\"Morreu meu sogro,coitado
nas garras daquela fera...
-Seo domador foi tragado,
já sei o fim que me espera\"...

É preciso lembrar que em concursos,para temas vários,o trovador faz as trovas a interpretarnão apenas suas próprias idéias ,mas também as alheias.
Eu própria,escrevi algumas sobre \"sogra\"(*)-e as minhas,duas,de casamentos diferentes,jamais teriam esse perfil.O poeta às vezes,fala sobre orfandada,com a própria mãe mãe viva...

Seu respeito pelo gênero feminino,era notável,com as questões sociais sempre presentes,veja-se:

Maria é mãe inocente,
mesmo com filho sem pai:
-irmã de toda semente
gera frutosquando cai.

E esse trocadilho,sua marca:

Justiça ,cheia de manha,
mulher vendada e vendida!
-Perdendo a causa já ganha
dá ganho á causa perdida...

Manoel tinha o cuidado pleno de pontuar muito bem suas trovas.Ao contrário de alguns,que pensam que,por ser poesia mais popular,a trova dispensa pontuação,usava vírgulas,reticências,exclamações-um primor de verbo.

O tema \"alma\" mereceu especial cuidado.Note-se o trocadilho,na premiada e muito conhecida

Nos beirais,nas tarde calmas,
asas ao sol,às centenas,
as pombas brancas são almas
a quem a vida deu penas.

E essa :

Nas pás de um moinho antigo,
reza o vento em ladainha,
pela alma branca do trigo
que a mó sem alma esfarinha.

Suas trovas de amor também são antológicas:

\"Volta amor,à minha vida,
pões asas no coração,
que uma andorinha,querida,
sozinha não faz verão.\"

\"Passa por mim,não me vê,
e talvez nem me olhe mais.
Não me conhece porque
eu a conheço demais\"

Depois,voltarei a trazer mais trovas dele.

Amigo,descansa em paz
e trova cada vez mais.
A beleza é contumaz,
continua,mesmo se vais...

(Clevane Pessoa ,em 27/11/2005)

~~~*~~~~

(*)Essa era uma das minhas que fazia rir os mais velhos:

Minha sogra varre a sala
-parece a bruxa Meméia!
Livro-me, só se casá-la
como pai do Zé Colméia...
(Clevane)

À época em que a escrevi,era solteiríssima,mãe de namorado maravilhosa...
Mostra apenas que,mocinha, ainda trazia os personagens de quadrinhos e desenhos animados bem presentes...Rsss

(**)Essas trovas do Manoel,apesar de sab~e-las de cor, foram hoje compiladas da coletãnea \"Poesia de Juiz de Fora\"(pg111.edição da Fundação Cultural Alfredo Ferreira Lage(#),na qual estou também e que,por sua vez, foram transcritas do \"Trovadores do Brasil\",a gigantesca antologia resultante da pesquisa incansável de Aparício fernandes(Editora Minerva Ltda,Rio de juaneiro,volume 3,1969,pg 196)

(#)O \"Poesia em Juiz de Fora\",resultado da pesquisa do incansável Dormevilly Nóbrega(pai do ator e compositor Daltony Nóbrega),é o segundo volume da série \"Coleção Juiz de Fora\".A edição é da Prefeitura Municipal dessa cidade,sendo o prefeito ,em 1981,ano da publicação,Francisco Antonio de Mello Reis.Gosto de registrar,para a posteridade,essas pessoas que valorizam as Letras e as artes.Dormevilly é o responsável pela criação de um Museu de som,onde autores eram gravados.Casei e mudei para Belo Horizonte,mas não fui esquecida:um dia chegou-me,pelo Correio,um exemplar do cito livro.
À época,era superintendente da FUNALFA o dinâmico Ismair Zaghetto.

Qualquer dia,chegarei até aí...

Publicado por clevane pessoa de araújo em 27/11/2005 às 12h47